sábado, 10 de maio de 2008

Eu, segundo eu - Reinaldo Ribeiro

Eu sou chamado de mistério, mas na realidade sequer sou visto;
As minhas sombras, ganham todos os prêmios da minha luz;
Sou condecorado com honras de covarde, tão somente porque resisto;
Sou saqueado pela injustiça, porque a hipocrisia não me induz!

A falsidade vive a me beijar, e se ilude com minha aparente inércia;
Ela ignora que dialogo habilmente, com todas as suas faces;
Seu mar venenoso, sonha manter minha virtude submersa;
Por não suportar minha fala, imputa-lhe o rol dos disfarces!

Eu sou um mundo desabitado, porque me sinto espécime singular;
Já extenuei minha esperança, com meus discursos sem tribuna;
Na Arca de Noé eu não entraria, pois sou gênero sem par;
Penso ser leito de rio, inundado por águas de laguna!

E assim vou eu, soldado solitário, nessa guerra por todos;
Alcatéia de uivos em monólogos, matilha sem latido;
Arquipélago incompreendido, de mares antagônicos envoltos;
Com fama de franco atirador, mas na verdade, um combatente ferido!

Nota de Maria Souza:

Ele ainda não havia me encontrado quando escreveu esse texto e só por isso acreditava não poder entrar na Arca de Noé. Agora ele já sabe que pode, mas a arca não existe mais!! rsrsrs

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