O menino que fui está distante
Andando sobre algum lajedo,
Vendo o resto de água acumulada em poças
Poças que ainda cabem peixes,
Proporcionais ao buraco, ao tamanho de mim.
A essas horas.
Falo das poças dos peixes de ornamento
Querendo saltar o menino, que por aí chora.
E tudo eu faria para ir buscá-lo,
Ter sua companhia, minha que falta
Um pedaço que ficou, melhor
Do que o que se ajoelhou, rezou e partiu.
Eu queria o menino aqui comigo,
Mas como reverter as luas,
transgredir as estrelas,
Os invernos que começaram e findaram,
Tantos peixes que no fim morreram.
Mas eu, se me conheço,
Não me dei tempo, e assim mereço.
O menino chora, a essas horas,
Em que as cigarras cantam pro além,
Cantam pra ninguém,
Ninguém quer escutá-las.
Onde pisam aqueles pés riscados de urtigas,
Onde anda o menino, que a mim fustiga,
Sua desaparição, seu conforto de algodão,
Suas conversas longas e boas,
Tempos sorrindo à toa.
Com quem ele parece com as mudanças
Que a ele não se assentaram,
É do mesmo rosto, dos mesmos olhos,
É dos mesmos dias, que não se passaram,
Dos mesmos sonhos que não aconteceram.
As estacas de unha-de-gato
Devem estar ainda encostadas no pequizeiro,
Definhadas.
Não suportam mais a casa que sonhávamos fazer,
Uma morada de quinze palmos de largura
E nove mãos de altura.
Lá íamos morar agregados de meu pai.
Mas quem para me ajudar agora,
Cavar, fincar estacas, subir a cumeeira,
Bater o piso de malho.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
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