domingo, 14 de dezembro de 2008

O invejoso - Reinaldo Ribeiro


Penosa cruz é essa que agride os ombros do invejoso;
Ter de atacar seu admirar mais ardoroso, sorrir com o âmago a sangrar;
Fingir um construtivo criticar e não admitir seu pretender mais desejoso;
Dizer até que sente nojo do que a sua incompetência adoraria alcançar!

Inveja é pretensão de ser capaz de ir além do que consegue;
É o ego que concebe o plágio imaginário de suas irrealizações;
Aponta imperfeições, quando o aplauso interior sua vaidade fere;
A única ética que lhe concerne é honrar suas pobres criações!

O êxito alheio lhe fere mortalmente e seus ossos amargurados se quebram;
Pois tudo que seus discursos renegam, em verdade seus anelos mendigam;
Mas nem todos intrigam, posto que por vezes como amigos e fãs se revelam;
E de tal forma sob máscaras se esmeram, que até nossos olhos duvidam!

Não deve ser fácil o ofício infeliz de um invejoso;
Seu pensar tão jocoso não pode evitar seu final solitário;
Não consegue ser páreo e nem mesmo escalar o patamar talentoso;
Pra si mesmo é mentiroso, um refém venenoso de um lodoso mundo imaginário!